1.0 out of 5 stars
TESES ABSURDAS!
Reviewed in Brazil on 15 November 2020
Eu tinha grandes expectativas em relação a este livro, uma vez que o autor é o celebrado autor de SAPIENS, um sucesso de público e de crítica. Mas depois de vencidas com muitas dificuldades suas 448 páginas, a sensação que ficou foi a de uma imensa perda de tempo, uma grande decepção.
Creio que o autor quis escrever uma distopia para o século XXI, como um George Orwell ou um Aldous Huxley, mas sem o talento destes.
Trata-se de um livro extremamente pessimista, desagradável, irritante. Ler este livro é quase um ritual de masoquismo.
Algumas das "previsões" do autor constituem o cerne do livro: a humanidade vai alcançar a imortalidade; a felicidade estará disponível a todos; a humanidade atingirá o estágio de divindade; a democracia vai desaparecer; quando a Inteligência Artificial adquirir consciência, vai destruir a humanidade (Hollywood já explorou este tema no filme de ficção científica " O EXTERMINADOR DO FUTURO"); o Homo sapiens vai desaparecer como "projeto" da Evolução, etc.
Para sustentar suas teses, ao longo de todo o livro o autor faz tantas afirmações absurdas, estapafúrdias e ridículas que fica difícil escolher as piores.
Eis alguns exemplos:
"Quando um cão salta de alegria quando seu dono chega em casa, não o faz porque está reconhecendo a pessoa que o alimenta e o afaga desde a infância. Está simplesmente dominado por um êxtase inexplicável."
Certamente as pessoas que tem cães como animais de estimação e os tratam como membros da família irão discordar totalmente dessa afirmação. O autor não revela como chegou a essa conclusão e não explica porque esse "êxtase" não se aplica a outras espécies animais que convivem com os humanos como animais de estimação. E o que seria este “êxtase inexplicável”?
"... tudo o que um animal se mostre capaz de fazer pode ser visto como o produto de algoritmos não conscientes, e não de memórias e planos conscientes."
A tese segundo a qual os "algoritmos não conscientes" regem a vida sobre a terra permeia toda a obra, mas o autor não consegue dar uma explicação razoável sobre como esses "algoritmos não conscientes" funcionam. Se os animais não têm memórias e planos conscientes, como explicar a afirmação seguinte (abaixo)? É uma contradição brutal.
"Na essência, nós humanos não somos diferentes de ratos, golfinhos ou chimpanzés. Como eles, tampouco temos alma. Como nós, eles também têm consciência e um complexo mundo de sensações e emoções."
Afinal, os animais não têm "memórias e planos conscientes", mas têm "consciência e um complexo mundo de sensações e emoções"? Qual das duas afirmações é a correta?
"Vinte séculos atrás, o sapiens mediano provavelmente tinha mais inteligência e maior capacidade de fabricar ferramentas do que o sapiens mediano atual."
O sapiens atual fabrica sondas interplanetárias e computadores avançados e ainda assim é menos inteligente do que o sapiens que viveu há 2 mil anos? É uma afirmação ridícula.
"Tome-se, por exemplo, o Jogo do Ultimato - um dos mais famosos experimentos em economia comportamental. Esse experimento é em geral conduzido com duas pessoas. Uma delas ganha cem dólares, que tem que dividir com o outro participante do jeito que quiser. Pode ficar com tudo, dividir ao meio ou entregar ao outro a maior parte. (...) As teorias econômicas clássicas afirmam que os humanos são máquinas de calcular racionais. Elas sugerem que a maioria das pessoas vai ficar com 99 reais e oferecer ao outro participante um real."
Não consegui entender como alguém inicia um jogo com 100 dólares e de repente esses 100 dólares se transformam em 99 reais, a não ser que aqui tenha havido um erro grosseiro na tradução.
"O Jogo do Ultimato deu uma contribuição significativa para sacudir as teorias econômicas clássicas e estabelecer a mais importante descoberta das últimas décadas no que concerne à economia: Sapiens não se comportam segundo uma lógica matemática fria, e sim de acordo com uma cálida lógica social".
O autor não explica como os Sapiens se comportam segundo essa "cálida lógica social".
"Talvez, algum dia, descobertas na neurobiologia nos permitam explicar o comunismo e as cruzadas em termos estritamente bioquímicos".
Um Prêmio Nobel deve estar aguardando para ser entregue ao gênio que explicar dois eventos históricos totalmente diferentes e separados por mais de 800 anos em termos "estritamente bioquímicos". É um absurdo risível.
"As ciências biológicas abalaram o liberalismo, alegando que o indivíduo livre é tão somente uma história ficcional fabricada por um conjunto de algoritmos bioquímicos."
O autor não explicou como "um conjunto de algoritmos bioquímicos" fabricou a história "ficcional" do indivíduo livre. O autor não apresenta qualquer evidência sobre como as ciências biológicas "abalaram" o liberalismo.
"O liberalismo só logrou derrotar o socialismo ao adotar as melhores partes do programa socialista."
O autor não disse quais as "melhores partes" do programa socialista foram adotadas pelo liberalismo. Um leitor minimamente versado em economia sabe que o Liberalismo e o Socialismo são sistemas antagônicos entre si.
Na página 317 do e-book o autor relata uma experiência conduzida por Daniel Kahneman, Prêmio Nobel de Economia, na qual voluntários eram solicitados a colocar a mão em um recipiente com água a 14°C por um minuto. Depois, os voluntários eram solicitados a colocar a mão em outro recipiente com água também a 14°C, só que desta vez, sem que os voluntários soubessem, era acrescentado água quente ao recipiente, de modo a aumentar a temperatura da água para 15°C. Depois do experimento, os voluntários eram solicitados a repetir a experiência, "porém cabia a eles escolher qual delas". A conclusão do autor: "Trata-se de um experimento bem simples, mas suas implicações estremecem o cerne da visão de mundo liberal". Esta conclusão é, obviamente, absurda e ridícula.
Qualquer leitor mediano consegue identificar as inconsistências e os malabarismos retóricos do autor, mas para uma refutação elegante e profunda às teses de Harari, sugiro a leitura do brilhante artigo de Martim Vasques da Cunha, cujo título é "O que você precisa saber sobre Yuval Harari, autor de 'Sapiens' e 'Homo Deus'", publicado na Gazeta do Povo, edição de 05/08/2018.
Com seu cientificismo pedante e seu materialismo e ateísmo grosseiros, Yuval Harari não conseguiu me convencer nem por um momento.
Resumo para o leitor apressado: NÃO PERCA SEU TEMPO.
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